Perto da meia noite eu lá passava: era um porto sombrio, desolador. Eu caminhava, introspecto como sempre, enquanto a névoa acentuava a dor. A dor de querer ter um objetivo, mas quando tê-lo não cumpri-lo ao todo. Faltava a garra de querer o mundo! Era esse spleen que eu tanto detestava. E eu, tão sozinho quanto o porto imundo, me confundia, talvez, co’essa névoa. Meu coração soltava um grito agudo. De dor?, de angústa?, medo? Que seria?
Tão de repente, nessa névoa fria, um marinheiro apareceu do nada. Cambaleando em seu tão ébrio estado, esbarrou em minha pessoa e foi ao chão. De olhar vidrado, a cara apavorada, fez-me terror ao fundo de minh’alma. Eu quis correr, mas o espectro maldito pegou-me a perna, meu Deus!, que faço?
Então, co’aquela cara de fantasma, ele me deu novo sentido à vida.
Ele disse:
“Navegar é preciso. Viver não é preciso!”
E morreu.