Há uma fascinação do ser humano pela leitura desde tempos remotos.  Por algum motivo, começou-se a escrever por prazer, para que alguém lesse o escrito com o mesmo prazer. Por quê? Acho que acima das questões metafísicas e existenciais está essa pergunta. Não há motivo racional para tal fato ter acontecido, ainda sim aconteceu. Nada é mais supérfluo que literatura, pois arte nada mais é que contemplação do trabalho de outra pessoa. A arte não alimenta, a arte não salva vidas, a arte não faz nada. É implausível, ao menos para mim, por que a arte é tão bela. Não entendo, e talvez jamais entenderei, por que nasci fascinado por algo que, por si só não é de maior valia.

Por mais que eu tenha total consciência da inutilidade que é a arte, sinto-me, ocasionalmente, impelido a buscar na arte um sentido maior, algo de humano, algo de realmente belo. Encontro! Encontro ainda mais do que procurava, uma vez que procurava um motivo para a arte e achei uma arte para um motivo: toda a forma de arte é, nada mais nada menos, que um espelho da alma humana. Há, claro, aqueles que pintam na tela do espelho uma imagem falsa, borrada, errônea, mas, felizmente, a arte real é bela e pura, mesmo sendo distorcida. Por ser sincera é tão bela a arte realista, a romântica, a moderna e tantas outras fascinantes formas de expressão.

Eis que encontro coisas ainda mais belas: fatos ainda naos revelados, segredos, mistérios ou, se quiserem, livros.
Escrevo todo este texto apenas para demonstrar o meu apreço pelas obras que achei em minha casa e que ainda não tive a oportunidade de ler, mas que logo logo estarei lendo. Entre elas constam livros de poesia do maior poeta que conheço (Pessoa), um livro de reflexões de Jean-Paul Sartre, A Arte da Guerra, fábulas de La Fontaine e, de longe, o que mais me intriga: A Odisséia, de Homero. Intriga-me tal livro por ele ser o centro das dúvidas expostas no começo de meu ensaio, ou melhor traduzindo: Por que o ser humano começou a escrever artisticamente? Homero sabia que talvez fosse lido por mais pessoas que não apenas os gregos? Quem inventou o conceito de arte? Quando? São fatos que talvez jamais sejam elucidados e, talvez por isso, são os mistérios mais fascinantes de toda a história.